Em entrevista especial ao RD News, o ex-jogador relembrou a sua trajetória no futebol, falou da sua chegada a Mato Grosso e revelou momentos marcantes durante as passagens pelo Mixto, Dom Bosco e Operário-VG. Dentre as três equipes que trabalhou no estado, o Mixto foi o time que mais marcou a sua carreira de treinador, isso porque também atuou como presidente do clube e contribuiu para o desenvolvimento do Tigre da Vargas.
Veja, abaixo, principais trechos da entrevista:
Como era futebol na época em que você jogava. Mudou muita coisa dos dias atuais?
Quando eu jogava era um futebol, iminentemente amador. Esse amador que eu falo é jogar por amor pela camisa. Não era um unha inflamada, ou um cabelo arrancado que iria fazer o jogador ficar fora do jogo. Ao contrário de hoje, dor de barriga ou de cabeça tira um jogador de campo. Eu jogava com muito amor, era um futebol aguerrido, e isso não significa que tinha mais craques, mas eles apareciam porque existiam poucos times que disputavam os melhores atletas. O futebol mato-grossense no período de 70, 80, não perdia para ninguém, tinha times que disputavam com outras equipes dos grandes centros quase no mesmo nível. Nós tivemos a oportunidade de participar desse período bom do nosso futebol.
Teve um período que você deu uma pausa do futebol, mas depois voltou como presidente do Mixto. Como foi esse momento da sua carreira?
Eu me afastei em 83, quando o presidente do Mixto chegou até a mim para falar de uma situação do clube. Eu já era tetracampeão no time, decidi me afastar do Mixto. Eu já sabia que nós não íamos ganhar o estadual. Se eu vou começar um campeonato sabendo que não vou disputar o título, é claro que não vou seguir no comando. Fiquei fora, mas por pouco tempo. O Dom Bosco me contratou para o Campeonato Brasileiro, terminou 83 e voltei para o Mixto. Depois, fiquei um tempo afastado novamente, mas voltei em 87, quando o Orlando Prass assumiu o Mixto com a condição de que eu voltasse para a diretoria do clube. Eu era um faz tudo. Com o futebol no sangue, voltei para a dirigência do Mixto, e fui assistir o primeiro jogo justamente contra o Dom Bosco. Mixto me perde o jogo e o técnico entrega o cargo. Orlando Prass pediu para eu assumir a função só até o restante do campeonato, o que não aconteceu.
Em 89 houve um desgaste entre eu e ele, quando resolvi deixar o Mixto. Sai após ser campeão pelo clube em 88. Em 89, voltei para o Dom Bosco, quando fomos vice-campeão perdendo para o Mixto. Um fato curioso é que o goleiro titular do Mixto no ano anterior era o Éderson, ídolo da torcida mixtense, e o Niquita era banco. O Éderson se machucou e eu coloquei o Niquita pra jogar, e no último jogo do campeonato, o Éderson queria jogar. Coloquei o Niquita pra jogar. No ano seguinte, ele de volta ao Mixto, foi o melhor nome em campo, quando pegou até pensamento e nós perdemos um jogo por 1 a 0. Em 94, eu voltei para o futebol, quando treinei o Dom Bosco no último grande campeonato do estado.
Teve um momento que você ficou meio revoltado com a diretoria mixtense sob comando de Eder Moraes e foi trabalhar no Operário várzea-grandense. O que aconteceu naquela época que te aborreceu?
Em 2011, fui convidado para ser presidente do Mixto. Na verdade eu queria o técnico e não dirigente. Pegamos um Mixto sem campo para treinar, não tinha jogadores, não tinha uniformes e nada x nada. Assumi o time com quase R$ 2 milhões de dívidas, mas encaramos as dificuldades. Montamos um time e no ano seguinte fomos campeões da Taça Governador e vice-campeão do estado. Em seguida, houve um movimento da Torcida Boca Suja, juntamente com Eder Moraes, para obrigar eu renunciar à presidência do clube. Me convenceram a renunciar porque o Eder Moraes iria voltar para o comando. Pra mim ele já estava dentro, porque havia assumido a parte financeira do time e não honrou os compromissos assumidos.
Em 2013, eu alertei sobre a história dele dentro do clube. Resolvi entregar o cargo e disse que não queria mais saber de futebol. César Gaúcho, presidente do Operário-VG, foi me procurar para ser diretor de futebol dele. Desde então, falei que não assumiria porque tinha acabado de deixar o comando do Mixto. Essa negociação foi a mais demorada que eu tive dentro do futebol. Como eu vinha pagando uma dívida no Mixto, ele me ofereceu um salário que dava pra eu pagar todo o mês o que eu estava devendo. Dia 22 de dezembro, eu acertei com ele, mas pedi para que não divulgasse nada na imprensa porque eu tinha um compromisso com a família no fim do ano. Eu na praia, meia-noite, tocou o meu celular, com alguém me xingando porque eu tinha ido para o Operário-VG.
Dia 10, eu cheguei e fui apresentado no clube. Na apresentação, eu falei que não vim para ganhar do Mixto, mas sim para ajudar o Operário a classificar para a Série D. Se pra isso acontecer precisasse ganhar do Mixto, tudo bem. Mas se nós perder para eles e classificar para a competição, o nosso objetivo estava alcançado. Graças a Deus, nós classificamos para a Série D e infelizmente o Mixto não classificou para nada. De lá para cá, o time está onde está depois da minha saída. É bom deixar registrado que eu deixei o Mixto na Série D, com duas Copas Brasil e uma Copa Governador.
Eu não sai do Mixto, me obrigaram a renunciar porque iriam pagar as dívidas do clube. A única pessoa que cumpriu com o combinado chama-se Dezinho, que era presidente da Boca Suja, e tinha uma dívida que não podia deixar de ser paga. Ele honrou. Os demais não fizeram nada.
Torce para qual time em MT?
Eu torço para os três: Mixto, Operário-VG e Dom Bosco. Não consigo ainda torcer para o Cuiabá. Mas eu torço para que ele ganhe os jogos para permanecer na Série A, mas ainda não sou torcedor do time. Se eu for ver Operário x Cuiabá, eu vou torcer para o Operário. A mesma coisa queria se fosse contra o Mixto, porque eu tenho uma ligação muito grande com o time. A torcida também me relaciona muito com o Mixto, fala que eu sou mixtense. Apesar do forte ligamento com o Tigre da Vargas, eu também torço para a evolução do Dom Bosco e Operário várzea-grandense.
Qual a sua visão do futuro do futebol mato-grossense?
O nosso futebol só voltará a ser forte, com Mixto, Operário e Dom Bosco fortes. Só com o Cuiabá nós seremos fragilizados. Nos últimos 10 anos só dá o Cuiabá, então as crianças de hoje em dia vão torcer para eles, porque não ouvem falar do Mixto e Dom Bosco campeões. Parabéns aos dirigentes do Dourado que montaram um bom time, com uma estrutura muito boa. Infelizmente o Mixto ainda não tem essa estrutura que tem o Cuiabá. Hoje vai mais gente no Dutrinha torcer mesmo para o Mixto, do que vai na Arena Pantanal torcer pelo Cuiabá. Essa é uma torcida fiel, mas nós não podemos esquecer que estamos envelhecidos. Nossa torcida está envelhecendo. Hoje eu tenho netos que já falam no Cuiabá, então se o Operário, Dom Bosco e Mixto não se fortalecerem rapidamente, dentro de pouco tempo nós vamos estar esquecidos, enquanto o Cuiabá vai tomar conta, porque eles têm estrutura, e isso faz com que ele permaneça na elite do futebol. Não vão cair nunca para a Série C, a não ser que os Dreschs larguem mão do time. O Mixto está aí com novos dirigentes, assim como o Operário também, vou torcer para que o Dom Bosco também arrume isso para o nosso futebol voltar a ficar forte, como já foi respeitado em todo o Brasil. Qualquer lugar que você fosse do Brasil o pessoal conhecia os times aqui de Cuiabá, principalmente o Mixto, que era o mais reconhecido nacionalmente.
Continua a entrevista… leia a íntegra no RD News: https://www.rdnews.com.br/entrevista-especial/conteudos/159263
Fonte: RD News