Foram 6 disputas seguidas (1978 a 1983), sendo a última vez em 1985
Por Emmanuel do Valle / trivela.com.br
Mixto em 1980 - Em pé: Edevaldo (prep. físico), Gilmar, Miro, Fumaça, Fabinho, Jairo, Ernani e Santana (dir. de futebol). Agachados: Golê, Tostão, Bife, Ademar e Toninho Campos. (Revista Placar) |
Depois de 35 anos, o estado do Mato Grosso volta a ter um clube na elite nacional com o acesso do estreante Cuiabá, confirmado na última sexta-feira. Embora suas participações não tenham sido tão marcantes quanto as dos vizinhos do sul, os clubes mato-grossenses estiveram presentes no Brasileirão por dez anos, sempre medindo forças com os gigantes do futebol brasileiro e, em muitos casos, tendo o torneio como vitrine para os ídolos locais. Relembramos aqui as campanhas de Mixto, Dom Bosco e Operário de Várzea Grande, o trio do estado que nos anos 1970 e 1980 bateu ponto na principal competição nacional.
Breve histórico do futebol de Mato Grosso
Antes de começar a contar essa história, porém, é preciso lembrar que até o fim dos anos 1970 o território do estado do Mato Grosso compreendia também o atual Mato Grosso do Sul. Apenas em outubro de 1977 seria aprovada a lei complementar que desmembrava a parte sul daquela unidade federativa. Tal medida, entretanto, só entraria em vigor a partir de 1º de janeiro de 1979. Mas antes, no início daquela década, o futebol mato-grossense já havia sido sacudido por uma mudança na relação de forças entre suas principais cidades.
O Campeonato Mato-Grossense foi disputado pela primeira vez em 1943, ano da fundação da federação local, e tinha como predecessor o Campeonato de Cuiabá, realizado esporadicamente pela liga da cidade entre 1922 e 1942. Não por acaso, todos os clubes que participaram da edição inaugural do estadual eram da capital. Nas décadas seguintes, porém, o estado se viu isolado no cenário nacional: só participou uma vez da Taça Brasil, na última edição em 1968, representado pelo Operário de Várzea Grande, da região metropolitana de Cuiabá.
Até o fim dos anos 1960, a hegemonia do futebol no estado pertencia aos clubes de Cuiabá e ao vizinho Operário de Várzea Grande, que dividiam entre si os títulos – tendo o Mixto como maior vencedor, com 14 conquistas entre 1943 e 1969. Mas no início da década seguinte, a adesão ao profissionalismo por parte dos dois grandes rivais da principal cidade do sul do estado, Campo Grande, transformaria o cenário estadual e teria reflexos até nas competições nacionais. Foi quando Operário (de Campo Grande) e Comercial entraram em cena.
Com investimentos maciços por parte de empresários locais, a dupla do sul começou a obter bons resultados no estadual. Em 1973, quando o estado passou a ter vaga no Campeonato Nacional (pós-1970), o Comercial se tornou seu primeiro representante, apontado num torneio seletivo – e não o Operário de Várzea Grande, bicampeão estadual. No ano seguinte, começou a hegemonia estadual dos clubes de Campo Grande, que levaram as cinco últimas edições antes da divisão do estado: quatro delas com o Operário e uma com o Comercial.
Mixto, primeiro representante da baixada cuiabana na elite do futebol
Ficando para trás no cenário regional, os clubes da região de Cuiabá só conseguiriam colocar um representante na elite nacional em 1976, com o Mixto, quando o (antigo) estado do Mato Grosso passou a ter dois representantes no Brasileiro. Daquele ano até 1986, os mato-grossenses teriam ao menos um clube em todas as edições do torneio nacional. O alvinegro seria o mais assíduo, com oito participações, sendo seis consecutivas (entre 1978 e 1983). Operário de Várzea Grande e Dom Bosco, o outro grande do estado, disputariam três edições cada.
São, portanto, as histórias das participações das equipes do atual estado do Mato Grosso que contaremos aqui. Não tão brilhantes quanto, por exemplo, a do Operário de Campo Grande, que chegaria a semifinalista do Brasileirão em 1977, alcançando ainda as quartas de final em 1981 e outras fases agudas do torneio em 1979, 1982 e 1984. Mas com campanhas bastante dignas em certas edições, além de alguns resultados expressivos, como vitórias sobre grandes. E que agora voltarão a ser escritas com a presença de um novo clube, o Cuiabá.
Gol olimpico de Pelezinho contra o Vasco da Gama, de Mazaróppi, no Campeonato Nacional de 1976 |
A boa estreia do Mixto no Campeonato Brasileiro
Vice-campeão mato-grossense de 1976 ao terminar atrás do Operário de Campo Grande na fase final do estadual, o Mixto se tornou no mesmo ano o primeiro clube do atual estado do Mato Grosso a disputar um Brasileirão nos moldes de 1971 em diante. Era a primeira edição em que o (antigo) estado passava a contar com duas vagas no certame. E embora caísse na repescagem, o Tigre faria uma campanha até bastante aceitável para um estreante, mandando seus jogos no recém-inaugurado Estádio Governador José Fragelli, o Verdão.
Incluído no Grupo D, encabeçado por Vasco e Atlético Mineiro, o time começou empatando em casa com Goiás e Operário e perdendo nas visitas ao Americano e ao America do Rio. Mas a primeira vitória, em 12 de setembro, seria categórica: 3 a 0 sobre o América Mineiro, com gols de três de seus destaques naquela campanha: o centroavante Bife, o ponta-direita Traíra e o armador Pastoril. O triunfo seria seguido dali a três dias por outro resultado ainda mais significativo: o 1 a 0 sobre o Vasco, graças a um gol olímpico do atacante reserva Pelezinho.
Porém, uma derrota em casa para o Goiânia (2 a 1) e outra no Mineirão para o Atlético (3 a 1) levaram o Mixto à repescagem, voltando a enfrentar as equipes de sua chave que não avançaram para os chamados “grupos de vencedores”. E então o time se recuperou: goleou o Americano em Cuiabá (4 a 1); voltou a bater o América-MG, agora dentro do Mineirão (3 a 1); e venceu o Goiânia fora (1 a 0). Na última rodada, precisava empatar com o Vasco em São Januário para avançar à terceira fase e colocar-se entre os 18 melhores times da competição.
Entretanto, as esperanças começaram a ruir naquela tarde de domingo, 24 de outubro, quando Roberto Dinamite abriu o placar para o Vasco aos 30 minutos do primeiro tempo. Na etapa final, a maior chance do empate surgiria também aos 30 minutos quando o atacante Carlinhos foi empurrado na área pelo lateral Toninho, e o juiz Emídio Marques de Mesquita marcou pênalti para os mato-grossenses. Mas a cobrança de Pastoril foi defendida por Mazarópi, antes de bater na trave e voltar para as mãos do goleiro. E o Mixto acabou eliminado.
No ano seguinte, o Alvinegro seria substituído pelo Dom Bosco, terceiro colocado e melhor time de Cuiabá no estadual de 1977. Apostando num desempenho melhor que o do rival MIxto, o Leão da Colina investiu para se reforçar com jogadores vindos dos principais centros do país. Mas sua campanha de estreia se revelaria um fiasco: na primeira fase, num grupo com dez equipes tendo a dupla Gre-Nal ponteando, o time azul e branco somou apenas dois pontos em empates com o Caxias em casa e o Juventude na Serra Gaúcha (ambos por 2 a 2).
E a campanha na repescagem começou igualmente péssima, com uma goleada de 4 a 0 sofrida para o Coritiba no Couto Pereira. Os dombosquinos até conseguiram vencer um jogo, batendo o Avaí pelo placar mínimo no Orlando Scarpelli. Mas um novo empate em casa diante do Caxias (1 a 1) e uma derrota no Verdão para o Juventude (1 a 0) não só decretaram a eliminação da equipe como a jogaram para a lanterna da competição, entre 62 participantes. De positivo, só os sete gols marcados em nove jogos na primeira fase pelo atacante Gonçalves.
O “Clássico Vovô” na elite do futebol
O Brasileirão de 1978 veio logo na sequência do de 1977 e ainda mais inchado: agora eram 74 clubes, o suficiente para que o número de mato-grossenses aumentasse para quatro – dois do “norte” (os cuiabanos Mixto e Dom Bosco) e dois do “sul” (a dupla de Campo Grande, Operário e Comercial). E todos ficaram no mesmo Grupo C, que contava com 12 equipes e era encabeçado por Corinthians e Santos. Assim, em 16 de abril, mixtenses e dombosquinos se enfrentaram no único “Clássico Vovô” local da história a valer pela divisão principal nacional.
Diante de pouco mais de 23 mil torcedores, os dois rivais empataram em 1 a 1 com ambos os gols vindo no segundo tempo: o zagueiro Zé Luís, do Dom Bosco, marcou contra e abriu o placar para o Mixto aos três minutos, mas o centroavante Adílson deixou tudo igual aos 14. Iguais no clássico, os dois clubes cuiabanos teriam trajetórias distintas na competição. Na primeira fase, enquanto os dombosquinos cumpriram campanha discreta, terminando na décima colocação e tomando o rumo da repescagem, o Tigre foi uma das grandes surpresas.
O Mixto terminou na terceira colocação da chave, atrás apenas de Corinthians e Goiás, e à frente do Santos. Mais: foi um dos cinco clubes entre os 74 participantes a passarem invictos por aquela etapa inicial do campeonato. Arrancou empates 1 a 1 com o Peixe de Clodoaldo, Aílton Lira, Juary e João Paulo dentro do Pacaembu e em 0 a 0 com o Corinthians, detentor do título paulista, em Cuiabá. Derrotou o Brasília fora de casa (2 a 1) e na última rodada consolidou a boa campanha com um categórico 3 a 0 na Desportiva no José Fragelli.
O regulamento, porém, acabou punindo a boa campanha do Mixto e permitindo a recuperação do Dom Bosco: enquanto os alvinegros iam para um grupo de vencedores, ficando pelo caminho ao enfrentar gigantes como Atlético Mineiro, Cruzeiro, Internacional e Palmeiras (embora somassem um empate em 1 a 1 diante de um desfalcado Galo no Mineirão e vencessem a Ponte Preta em Cuiabá por 2 a 1), o Leão soube fazer da repescagem uma passagem à terceira fase, superando de novo as equipes mais fracas de sua chave na etapa inicial.
Mesmo ficando em um grupo não tão forte quanto o do Mixto na fase anterior, o Dom Bosco acabaria eliminado somando apenas três pontos em sete jogos. Mas obteria a segunda vitória de um clube mato-grossense sobre um dos 12 grandes do futebol brasileiro ao bater o Fluminense de Edinho, Marinho Chagas e Doval por 2 a 1 em Cuiabá no dia 20 de julho (o Brasileiro atravessou o período da Copa do Mundo naquele ano). Gonçalves e Bargas marcaram os gols dombosquinos antes de Carlos Alberto Pintinho descontar para o Flu na etapa final.
Trio mato-grossense no Nacional
Primeiro Brasileirão depois de concretizada a divisão do estado, o torneio de 1979 rendeu ao Mato Grosso – em meio a um inchaço ainda maior, que estabeleceu a marca recorde de 94 clubes participantes – uma terceira vaga para o antigo “norte”. Com Mixto e Dom Bosco mantidos, o Operário de Várzea Grande foi trazido de volta a um certame nacional 11 anos depois de disputar a Taça Brasil, quando caiu na fase preliminar num triangular com o Atlético Goianiense e o brasiliense Rabelo. E os três acabariam cumprindo campanhas bem aceitáveis.
Naquele ano a repescagem foi abolida, significando que muitos clubes seriam de fato eliminados na primeira fase. Mas os três representantes mato-grossenses conseguiram se classificar, com destaque para o Mixto, segundo colocado em sua chave. No mesmo Grupo C estava o Operário, fazendo com que mais um clássico do estado fosse transportado para uma competição nacional: em 14 de outubro, o Tigre venceu por 4 a 3 num jogo eletrizante e cheio de reviravoltas, com três gols do artilheiro Bife, enquanto Gérson Lopes fez dois para os tricolores.
O trio mato-grossense parou na segunda fase, mas todos venceram pelo menos um jogo nesta etapa. Em Cuiabá, o Mixto bateu o Colorado-PR (3 a 2) e o Operário venceu o Central de Caruaru (2 a 1). Já o Dom Bosco somou três vitórias. Em casa, superou Leônico (2 a 1) e CSA (3 a 1). E em Ribeirão Preto, bateu o Comercial por 3 a 2. De quebra, nos três clubes houve atacantes que se destacaram: Bife, do Mixto, foi um dos vice-artilheiros do certame (10 gols). Adílson fez nove e Bargas, sete pelo Dom Bosco. E Gérson Lopes anotou seis pelo Operário.
Domínio mixtense em participações
A edição de 1979 marcou a última participação do Dom Bosco na elite nacional. A partir de 1980, com o Brasileirão reformulado, enxugado e dividido nas Taças de Ouro e de Prata (equivalentes a primeira e segunda divisões), o Mato Grosso voltaria a ter um único representante. E nos quatro primeiros anos, ele seria o Mixto. A constância nas participações, entretanto, não se traduziria em campanhas expressivas num primeiro momento. Entre 1980 e 1983, o Tigre caiu três vezes na primeira fase, avançando à etapa seguinte apenas em 1981.
Naquele ano, o Mixto estreou com um bom empate em 1 a 1 diante do Fluminense, campeão carioca, em Cuiabá. Na sequência, foi buscar outro ponto num 0 a 0 com o River em Teresina. E a partir da quarta rodada obteve três vitórias seguidas em casa que ajudaram a sacramentar a classificação: um expressivo 4 a 2 no América-RN, um apertado 1 a 0 sobre a Campinense e um categórico 3 a 0 no CSA. Assim, num grupo de dez equipes que incluía, entre outros, Atlético Mineiro e São Paulo, e no qual sete se classificavam, o Tigre terminou em sexto.
Na segunda fase, em que os 32 classificados eram distribuídos em oito quadrangulares em turno e returno, o Mixto enfrentaria Bangu, Botafogo e Santos. E até largaria bem, empatando com o Santos em Cuiabá (1 a 1) e com o Botafogo em Marechal Hermes (0 a 0). Mas duas derrotas por 2 a 0 nas visitas ao Bangu e ao Santos distanciaram os mato-grossenses da chance de classificação. O time ainda voltaria a empatar com o Botafogo, agora em Cuiabá (2 a 2), com um belo gol de falta de Bife. Mas o resultado não evitou a eliminação.
Se voltou a decepcionar e cair na primeira fase em 1982, o Mixto pelo menos somou duas grandes vitórias naquela edição, num Grupo E que reunia ainda Cruzeiro, Bahia, Bangu e o Operário-MS. Num intervalo de três dias, jogando no José Fragelli, a equipe bateu o alvirrubro carioca por 2 a 1 e impôs um 4 a 2 à Raposa num jogo em que teve ainda dois gols legítimos anulados. Contra os mineiros, o destaque foi um dos grandes ídolos do clube no período, o ponta-de-lança Tostão, autor de três gols. Mais tarde ele defenderia o próprio Cruzeiro e o Coritiba.
A vez do Operário
No fim de 1983, o Operário levantou o título estadual impedindo o penta do Mixto e garantiu seu retorno à elite nacional para a temporada seguinte. Embora iniciasse o Brasileirão de 1984 com pretensões modestas, considerado o maior azarão do Grupo G em que enfrentaria Corinthians, Internacional, Joinville e Anapolina, contava com um velho ídolo do rival para garantir os gols: o veterano artilheiro Bife. Mas o destaque do time na boa campanha seria o experiente armador Mosca, que já havia defendido o Chicote da Fronteira no torneio de 1979.
A equipe iniciaria sua campanha fazendo seus dois primeiros jogos fora de casa, contra Anapolina e Corinthians. A expectativa era a de sequer somar pontos. Mas o time voltou a Várzea Grande sem sofrer gols, arrancando dois empates em 0 a 0. Melhor ainda viria depois: com a vitória por 1 a 0 sobre o Joinville no José Fragelli (gol de Mosca logo aos três minutos), o Operário assumia uma surpreendente liderança da chave. Três dias depois, novamente no Verdão, buscaria o 2 a 2 com o Internacional depois de sair em desvantagem de dois gols.
No returno, o time perderia o fôlego, sendo derrotado nas visitas ao Joinville (2 a 1) e ao Inter (2 a 0), além de goleado em casa pelo Corinthians (4 a 0). Mas no último jogo, o Operário arrasaria a Anapolina por 6 a 1 em Cuiabá, em grande atuação de Mosca, autor de nada menos que quatro gols (dois de pênalti). O ponta-direita Zé Dias e o centroavante Bife completariam a goleada. Mesmo folgando na rodada decisiva, o Chicote já deixava sua classificação bem encaminhada. E ela seria confirmada, na terceira colocação, três dias depois.
Na segunda fase, um outro grupo complicado, tendo America-RJ, Botafogo e Coritiba, esperaria pelo Operário. Na primeira rodada, o ponto do empate (1 a 1) contra o Alvinegro carioca veio graças a um golaço de bicicleta de Mosca a cinco minutos do fim. Mas três derrotas consecutivas praticamente encerraram o sonho da classificação. O time foi batido duas vezes pelo America, líder da chave (3 a 1 no Rio e 4 a 1 no José Fragelli), e também pelo Coritiba no Couto Pereira (2 a 0). Mas ainda aprontaria antes de se despedir da competição.
Primeiro, o Chicote daria o troco no Coritiba, devolvendo os 2 a 0 no José Fragelli. E na última rodada, eliminaria o Botafogo, vencendo o Alvinegro em São Januário por 1 a 0. O gol saiu num pênalti sofrido por Luisão e cobrado por Mosca. O Botafogo teria a chance de empatar em outra penalidade, sofrida por Cláudio Adão. Mas o próprio centroavante teria seu chute defendido pelo goleiro Mão de Onça, nome histórico do futebol do estado, e que também atuou pelos rivais Dom Bosco (nos Brasileiros de 1978 e 1979) e Mixto (em 1982).
A campanha renderia ao Operário a 24ª posição entre 41 participantes, à frente de clubes como Bahia e Cruzeiro. Era, até ali, a melhor colocação obtida por um mato-grossense na história do Brasileirão, em sentido absoluto (isto é, sem levar em consideração a proporção com o sempre variável número de clubes ao longo dos anos). Mas já na temporada seguinte o Mixto, que havia reconquistado o estadual em 1984, superaria aquele posto, tornando-se a primeira – e única – equipe do estado a figurar entre as 16 melhores do país.
O melhor momento do estado no Brasileirão foi com o Mixto
A Taça de Ouro de 1985 teve seus 44 participantes divididos em quatro chaves de nível técnico bem distinto. As 20 melhores equipes do ranking histórico do torneio compunham os Grupos A e B, que se enfrentariam em turno e returno. Nos outros dois estavam os demais 24 participantes, que jogavam só dentro de seus grupos em ida e volta. Estas chaves “dos pequenos” tinham distribuição regionalizada. O Mixto ficou na C, ao lado de Sport, Ceará, Paysandu, Remo, CSA, Sergipe, Botafogo-PB, Flamengo-PI, Sampaio Corrêa e Nacional-AM.
E já de saída o Tigre mostrou que era um forte candidato a uma das quatro vagas que seu grupo proveria na fase seguinte: a equipe largou vencendo fora de casa o CSA e o Sergipe, ambos por 1 a 0. O melhor desempenho como visitante do que como mandante, aliás, seria uma curiosa marca do time naquele turno: os mixtenses superariam o Flamengo-PI em Teresina e o Nacional em Manaus (ambas por 2 a 1), além de empatarem com o Remo em Belém (1 a 1). Na última rodada, um 2 a 1 sobre o líder Sport em Cuiabá deixou o Mixto em segundo.
Veio então o segundo turno, com os mandos invertidos, e desta vez seriam os pontos obtidos em casa que sustentariam a campanha: nos seis jogos no Verdão, o time somaria cinco vitórias e um empate, pontuando como visitante apenas nos empates com o Paysandu em Belém (1 a 1) e com o Sampaio em São Luís (0 a 0). De todo modo, o conjunto da campanha foi muito regular. Embora terminasse o returno em sexto, havia feito só um ponto a menos que na primeira etapa. Na soma, ficaria em terceiro, com dez vitórias, sete empates e cinco derrotas.
Um dos quatro classificados do grupo, juntamente com Sport, Ceará e CSA, o Mixto agora estava entre as 16 equipes da segunda fase, disputada após um hiato de mais de dois meses pelos jogos do Brasil nas Eliminatórias da Copa de 1986, e na qual os clubes dos grupos A e B se misturariam aos das chaves C e D em quatro quadrangulares em ida e volta, que apontariam os semifinalistas. E caberia aos mato-grossenses enfrentar três fortes adversários – Vasco, Internacional e Bangu – colocando o Tigre naturalmente em posição de azarão.
Ainda mais porque muitas foram as mudanças no Mixto de uma fase para a outra. Mudanças no comando técnico (Geraldo Cardoso substituiu Natanael Ferreira), no elenco (com a saída do centroavante Geraldão, um dos goleadores da equipe até ali) e até na presidência do clube faziam com que o Tigre precisasse se reconstruir em meio à competição. Mesmo assim, o time estreou bem: vencia o Vasco em Cuiabá por 1 a 0, gol de Rodrigues na etapa inicial, até Roberto Dinamite empatar a oito minutos do fim e evitar a repetição da derrota de 1976.
No jogo seguinte, novamente em casa e agora diante do Bangu, o time outra vez saiu na frente, com gol do volante Cláudio Barbosa. Mas Marinho empatou para os cariocas ainda no primeiro tempo, e a equipe dirigida por Moisés virou e chegou à goleada de 4 a 1 na etapa final. E o Mixto quase pregou uma peça também no Internacional, na terceira rodada: segurou bravamente o 0 a 0 no Beira Rio até os 44 minutos do segundo tempo, quando Silvinho sofreu pênalti do goleiro Nélson e o uruguaio Rubén Paz converteu, dando a vitória aos colorados.
O segundo ponto ganho viria diante do Bangu em Moça Bonita. O ponta Gílson Bonfim abriu o placar de pênalti no primeiro tempo, mas o meia-armador Pingo empatou para os cariocas no começo da etapa final. Nos dois últimos jogos, no entanto, o Mixto já parecia ter esgotado sua cota de surpresas: perdeu sem muita reação para o Internacional no José Fragelli (3 a 1) e foi goleado pelo Vasco em São Januário (4 a 0) num jogo em que ambos já estavam eliminados. Mas a posição final foi histórica: o Tigre era o 14º colocado do Brasileirão.
Equipe do Mixto Esporte Clube em 1985, no Campeonato Nacional |
A triste despedida da elite
Aquela seria a única vez em que um time mato-grossense terminaria o Brasileirão com o número de vitórias maior que o de derrotas (dez contra nove). E também marcaria a última participação do Mixto: entre 1985 e 1987, o Operário enfileiraria um tri estadual, que, no entanto, acabaria valendo vaga para o certame nacional em apenas uma ocasião, em 1986. Incluído no Grupo C, o Chicote apostava no técnico Antônio Malaquias e em reforços experientes, como o lateral Nei Dias (ex-Flamengo) e o atacante Jota Maria (ex-Corinthians).
Além deles, ainda havia o futebol do veteraníssimo Mosca, já perto dos 37 anos, para tentar brigar no rebolo da chave. Porém, não foi o suficiente para evitar uma campanha que surpreendeu de maneira negativa, bem abaixo das expectativas. O time até estreou vencendo: 2 a 1 na Tuna Luso – dois gols de Jota Maria, o da vitória saindo a um minuto do fim. Em seguida, a equipe parou num 0 a 0 com o Piauí, tido como o adversário mais fraco, dentro do José Fragelli. Mas a primeira derrota (2 a 0 para o Cruzeiro em casa) acabou abrindo a porteira.
O Operário perderia em seguida para o Náutico no Arruda (3 a 1), o Bahia na Fonte Nova (2 a 1), o Santos no Parque Antártica (3 a 0) e o Guarani no Brinco de Ouro (2 a 0). E a rotina de derrotas seguiria na volta a Cuiabá: 3 a 0 para o Atlético-GO e 2 a 0 para o Rio Branco-ES. Na despedida, o Chicote levaria de um Vasco que vinha em crise a maior goleada sofrida por um clube do estado no Brasileiro: 6 a 0, com três gols de Roberto Dinamite e um do jovem Romário. Terminaria assim, melancólica, a trajetória dos clubes do Mato Grosso na elite nacional.
Mudança de formato no Campeonato Brasileiro
Com a redução do número de participantes do Brasileirão a partir de 1987 e a implementação de novas divisões, o futebol do Mato Grosso foi aos poucos sendo relegado a categorias inferiores da competição nacional. Com reduzidas oportunidades de enfrentar as principais forças do país, os grandes do estado experimentaram um profundo declínio inclusive no cenário local: de 1990 para cá, o Mixto só venceu duas vezes o estadual, enquanto o Operário não levanta a taça desde 2002. E ambos sofreram com rebaixamentos, algo antes inimaginável.
A crise nas forças tradicionais abriu espaço para o surgimento de novas potências, como é o caso do próprio Cuiabá: fundado em 2001, venceu seu primeiro estadual em 2003 e já acumula nove conquistas – deixando na poeira até mesmo o Dom Bosco, detentor de seis títulos. E para novas forças, novos palcos: o velho José Fragelli foi demolido em 2010 para dar lugar à Arena Pantanal, construída para a Copa do Mundo de 2014 e que, depois de receber partidas esporádicas de clubes de outros estados, agora enfim se torna um estádio de Série A.