Entrevista especial
Dura missão contra o Peixe
Ary Marques é do tipo de treinador que gosta de grandes desafios. Depois de comandar o Cuiabá Esporte Clube por quatro temporadas seguidas, ele viveu este ano algo inédito na sua carreira de 23 anos. Iniciou o Campeonato Mato-grossense no comando do Operário Várzea-grandense, classificou o time para a segunda fase e em seguida pediu demissão. Um dia depois havia acertado sua ida para o Mixto. Atual campeão mato-grossense e terceiro treinador do Alvinegro da Vargas na atual temporada, ele tem pela
frente o desafio de encarar o Santos (SP) no próximo dia 2 de abril pela Copa do Brasil.
Fora das finais do Estadual e eliminado logo na primeira fase da Copa Verde, o Mixto só tem o torneio nacional para salvar o ano em que completa 80 anos de fundação no próximo dia 20 de maio. Em entrevista exclusiva ao jornal A Gazeta, Ary Marques fala do grande desafio de levar o Mixto a fazer o segundo e decisivo jogo contra o Santos na Vila Belmiro.
A Gazeta - Você é o terceiro técnico do Mixto na temporada. Em que situação encontrou o elenco de jogadores?
Ary Marques - Quando cheguei encontrei vários jogadores entregues ao departamento médicos, lesionados. Senti um grupo desacreditado junto a torcida. O que os jogadores me relataram é que o período chuvoso atrapalhou muito, pois treinavam muito pouco. Eles (atletas) estavam inseguros quando entravam em campo. Isso prejudicou muito a campanha no Estadual.
A Gazeta - E hoje qual é o atual quadro?
Ary Marques - Sinto o grupo um mais unido, animado, disposto a reverter o quadro. Estamos trabalhando muito para mudar a situação. Sinto que todos os atletas querem vencer com o Mixto.
A Gazeta - Como está a sua preparação para enfrentar o Santos, time de melhor campanha na primeira fase do Campeonato Paulista?
Ary Marques - A preparação está sendo muito boa. Estamos trabalhando em período integral. Estou priorizando treinos com bola. Sei que é uma missão muito difícil, pois o Santos vem jogando o melhor futebol entre os grandes clubes brasileiros. Cada jogador tem que dar o seu limite. É uma grande pedreira que teremos pela frente.
A Gazeta - Algum jogador santista te preocupa?
Ary Marques - O Santos é um conjunto todo. É uma nova geração. Vejo o Arouca como o ponto central do time. Mas ainda tem o Thiago Ribeiro, Damião, Cícero, Geovânio, Gabriel, o Gabigol. É uma equipe homogênea e muito jovem.
A Gazeta - É possível repetir a façanha que o Luverdense conseguiu frente ao Corinthians ano passado?
Ary Marques - Veja bem. O momento do Santos hoje é bem melhor do que o Corinthians vivia ano passado. Como te disse, o trabalho é árduo para chegarmos no dia do jogo em ótimas condições. É possível, sim, vencermos o Santos aqui ou pelo menos provocar a partida de volta. Estamos confiantes.
A Gazeta - Nos últimos quatro anos você teve um calendário cheio de competições, de janeiro a dezembro. Agora no Mixto, antes do término do primeiro semestre, só resta a Copa do Brasil pela frente. O que tem feito para trabalhar a cabeça dos jogadores para prolongar a temporada?
Ary Marques - Infelizmente, o Mixto não se classificou nas duas competições que disputou neste início de ano. Saiu da Copa Verde e do Mato-grossense. Esta parada está sendo difícil. Temos que pensar no futuro. O objetivo é realizar o segundo jogo com o Santos. Já avisei aos jogadores: quem não estiver afim de ir conosco até ao final que saía logo. Infelizmente, sobrou o mais difícil para nós que é passar pelo Santos.
A Gazeta - Para não ser eliminado logo neste jogo de ida, a ordem é jogar fechado?
Ary Marques - Temos que jogar muito bem. Não adianta jogar fechadinho, se defender o tempo todo diante de uma equipe que ataca o jogo inteiro. O negócio é atacar e se defender ao mesmo tempo. O que nos ajuda um pouco é o fato do jogo não ser no Dutrinha. Na Arena Pantanal, gramado novo e dimensão maior, te proporciona a realizar uma boa partida. As condições são totalmente diferentes.
A Gazeta - Mas você não teme o Mixto sentir o peso de ser um dos protagonistas na inauguração de um dos 12 palcos da Copa do Mundo no Brasil?
Ary Marques - Sim. Os jogadores do Santos vão se sentir como se estivessem jogando em casa. Eles estão mais acostumados a jogar em grandes estádios como o Morumbi, Pacaembu e a própria Vila Belmiro. Infelizmente, só jogamos no acanhado Dutrinha. A situação não é só pior pelo fato do nosso Centro do Treinamento ter um ótimo gramado. Isso ajuda um pouco.
A Gazeta - Você dispõe de Paulo Almeida e Ruy Cabeção no grupo. Ambos estão acima dos 30 anos. Dá para escalar os dois logo de cara?
Ary Marques - Dá sim. No caso do Ruy, ele terá uma função de jogar mais adiantado. Já o Paulo Almeida ficará na contenção das jogadas, protegendo a defesa. São jogadores experientes e que têm me ajudado bastante, são referências para o restante do elenco.
A Gazeta - Independente do resultado do jogo com o Santos na próxima quarta-feira, pretende continuar no Mixto como aconteceu no Cuiabá?
Ary Marques - Estou muito contente aqui no Mixto. Quero muito ajudar este clube a voltar a ser campeão, ter acessos. Se tiver tempo dá para realizar um grande trabalho como fizemos na época do Cuiabá. Há muita coisa para ser feita neste clube.
A Gazeta - Mas já foi procurado pela diretoria alvinegra para dar sequência ao trabalho?
Ary Marques - Ainda não. Só conversarmos quando me procuraram para o Estadual. Nem contrato eu tenho. Continuidade de trabalho se discute em cima de resultados.
A Gazeta - A torcida do Mixto é exigente. Por você ter ficado muito tempo no Cuiabá e ter conquistado vários títulos lá, já foi hostilizado por algum torcedor alvinegro?
Ary Marques - Nunca. Só comandei o time nos dois jogos contra o próprio Cuiabá nas quartas-de-final. Pelo contrário, por onde ando aqui na cidade só recebo apoios, carinho do torcedor mixtense. A torcida do Mixto é grande como clube. É normal haver cobrança por vitórias e títulos.
Veja a matéria original clicando no link
Luiz Esmael / Jornal A Gazeta - Foto: João Vieira