A escolha de Cuiabá para ser uma das 12 cidades-sede da Copa do Mundo de 2014 sem dúvida alguma trouxe muitas alegrias aos mato-grossenses. Os projetos a serem desenvolvidos para atender as exigências da Federação Internacional de Futebol (Fifa), porém, têm provocado muita polêmica e discussão. Uma das propostas que tem gerado divergência é a demolição do Estádio José Fragelli, o "Verdão", construído há 33 anos.
Enquanto alguns defendem que a melhor proposta é derrubá-lo para eu seu lugar construir uma arena mais moderna e funcional, outros defendem a sua reforma para adequá-lo as exigências da Fifa. Tem ainda um outra parcela que acredita que a melhor proposta é fazer um novo estádio em outro ponto da cidade onde a acessibilidade seria melhor.
Entre os defensores de manter o Verdão em pé está o engenheiro aposentado Rômulo Vandoni, 86 anos, responsável pela escolha do terreno onde o estádio foi construído e por 70% da conclusão da obra, ocorrida em 1976. "É um absurdo demolir o Verdão. É jogar dinheiro fora. Para que gastar R$ 400 milhões em um novo estádio se é possível reformar o Verdão, que tem uma estrutura muito boa e um projeto moderno, apesar de ter sido construído há três décadas? Temos que ser práticos, podemos usar esse dinheiro para construir outras obras mais importantes para a cidade".
A opinião de Vandoni, colocada na roda de conversa do "Senadinho" (um grupo formado por 32 pessoas que se reúne todos os dias para discutir as questões políticas e sociais de Mato Grosso) não é consenso. "Sou a favor sim de demolir o Verdão e construir outro no local. Lá já tem toda a infraestrutura necessária. Cuiabá vai ganhar, pois toda a região nas imediações do estádio receberá melhorias", acredita Renato Olavarria, 76 anos, fiscal aposentado do Estado e membro do "Senadinho".
Já o cirurgião dentista aposentado Eldivaldir Figueiredo, 76, o "Zizinho" como é conhecido pelos amigos do "Senadinho", acredita que é preciso ponderar antes de tomar qualquer decisão. "É necessário saber se é conveniente demolir o Verdão. Algumas questões têm que ser levadas em conta, como por exemplo: quanto vai se gastar para demolir? Quanto é necessário para construir outro? Quanto é preciso para reformar? É melhor fazer outro estádio em outro lugar da cidade? Tudo isso precisa ser muito bem pensado. Acredito que a priori não é recomendável demolir esse estádio, pois penso não ser bom destruir nada. Acho que devemos usar o bom senso. O governo poderia conservar esse estádio onde ele está, com certeza será útil".
O professor doutor do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) José Afonso Botura Portocarrero e membro do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia de Mato Grosso (Crea-MT), também defende que a melhor alternativa para a Copa de 2014 seria a reforma do estádio. "O Verdão pela condição enquanto projeto sempre foi muito inteligente. É um estádio praticamente invisível. Eu acho que caberia uma grande reforma para adequá-lo às exigências da Fifa".
Portocarrero critica a maneira como o governo do Estado decidiu pela demolição do Verdão. "Nós enquanto profissionais de arquitetura não participamos da discussão. Temos em Mato Grosso 5 escolas de arquitetura e ninguém foi ouvido. Temos condições de contribuir, mas infelizmente não fomos chamados para colocarmos a nossa versão", lamenta o professor que levou o assunto para discussão no Crea, onde teve adesões.
O presidente do Crea/MT, Tarciso Bassan, diz (por meio da assessoria de imprensa) que não pode falar em nome da instituição, mas que pessoalmente não concorda com a proposta de demolir o estádio. Bassan pondera que com o dinheiro que será gasto para demolir o estádio e construir outro no lugar é possível fazer um novo Verdão em outra região da cidade, com avenidas mais largas, onde a trafegabilidade seria melhor.
O Crea enquanto órgão participará do processo emitindo apenas pareceres técnicos, que serão feitos por profissionais responsáveis pela fiscalização da obra.
Para o economista Renato Gorski, que é consultor empresarial na área de projetos, a demolição do "Verdão" é um erro. "Na condição de economista e com tantas áreas disponíveis em Cuiabá, em nível de prefeitura e de governo estadual, encaro como um grande desperdício a demolição do Verdão. Com a construção de um novo estádio, pode-se encontrar uma localização até melhor que a do bairro Verdão em termos de fluxo de trânsito, por que em data de eventos no Ginásio Aecim Tocantins e no próprio Verdão o trânsito fica difícil na região. O estádio poderia continuar sendo utilizado normalmente enquanto se constrói um novo , permitindo que o campeonato mato-grossense não seja prejudicado e não se jogue fora o dinheiro que saiu do erário público. O Verdão está em tão boas condições que foi cogitado trazer uma partida de futebol da Copa Libertadores da América para cá "numa eventual despedida". Isso é um atestado que a obra não precisa ser extirpada, apenas precisa de um novo local - que não vai tirar o brilho dos preparativos para Copa de 2014".
O presidente da Federação Mato-grossense de Futebol, Carlos Orione, foi procurado para falar sobre o assunto, mas disse que não iria emitir opinião a respeito do tema.
História
Iniciado em 1973, e com capacidade prevista para 50 mil pessoas e projeto arquitetônico de Silvano Wendel, o Verdão foi motivo de duras críticas à administração de Fragelli. Orçado em Cr$ 1.200.000,00, moeda da época, a obra que foi iniciada no Governo José Fragelli, seria finalmente concluída em 1976, já na administração José Garcia Neto.
No dia 12 de março de 1975, a equipe do Fluminense e a Seleção de Cuiabá se enfrentaram na partida que comemorava a conclusão parcial das obras, quando na oportunidade a equipe de Cuiabá entrou para a história balançando pela primeira vez as redes do "Verdão". No ano seguinte, 8 de abril, o estádio era finamente concluído com a presença do Flamengo e um quadrangular entre os clubes da capital, Mixto, Operário e Dom Bosco, assistido por mais de 49 mil torcedores.
Projeto do novo Verdão
A obra que será erguida ao lado do Ginásio Aecim Tocantins contará com um amplo complexo para visitação. A nova arena vai comportar 42,5 mil pessoas sentadas e acomodadas. O estádio será de múltiplo uso, para que, depois da Copa possa ser usado como centro de convenções, palco para shows, feiras, entre outros. O novo estádio contará com restaurantes, estacionamentos, lagos, bosque, pista para caminhada. A obra está orçada em R$ 430 milhões.
fonte: Janã Pinheiro/ A Gazeta
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